terça-feira, 7 de outubro de 2008

Porque você não deve ter um sócio...

Além do óbvio, aquele que todo mundo fala e sabe de cor e salteado, tem outras coisas, que pra mim é o que pega agora, neste momento de rompimento.

Se você consegue conviver por 11 anos, diariamente com alguém e não amar essa pessoa como se ela fizesse parte da sua família, PARABÉNS! Eu não consegui.

Conheci T. na faculdade, ela filhinha de papai, só estudava, eu, trabalhava em Porto Alegre e queria ser dona do meu nariz. A faculdade era importante, claro, mas eu levava as coisas de uma forma bem mais tranquila, estudava sim, passava nas matérias, mas me dedicava somente o necessário, afinal já chegava na faculdade depois de um dia cansativo de trabalho. T. era CDF até doer.

Nos dias de prova eu dizia que tinha dado uma lida na matéria e ela nem disfarçava a cara de desprezo. Oras, eu tava cansada, tinha outros zilhões de problemas pra administrar e não precisava tirar 10 pra ser feliz.

Nós não éramos amigas, eu não a visitava, nem ela a mim. Eramos colegas. Eu vivia pedindo o caderno dela emprestado pra xerocar as aulas que eu perdia. Sim, eu perdia muitas aulas.

A formatura veio, eu sai do Unibanco (meu emprego da época) e tava naquela de dar um rumo na vida. Eu tinha 24 anos, e estava em conflito, já sabia que gostinho tinha ser dona do seu nariz, tendo meu salário todo final de mês depositado na conta. Me convidaram pra trabalhar no BBV, que recém tinha inaugurado uma agência na cidade. Foi um momento decisivo pra mim, ou eu ia trabalhar lá, ganhando o dobro do que ganhava no Unibanco, ou eu negava a proposta e ia encarar a advocacia com todas as dificuldades que isso trazia. Indiquei minha irmã pra vaga do BBV e poucos dias depois recebi um telefone da T. me convidando pra abrir um escritório com ela.

Encarei e no dia 12 de março de 1998 abrimos as portas, com dois processos. Dois inventários enrolados. Nenhuma de nós duas tinha experiência nenhuma. E tínhamos muitas dívidas, contraídas pra comprar os móveis necessários. Eu tinha jogo de cintura que o tempo no banco me deu, tinha tato pra tratar o cliente, segurança em colocar minha opinião, e sabia me vender muito bem, os malditos cursinhos do Unibanco não foram em vão.

A T. tinha dois processos, um pai e um irmão advogados, que moravam longe, mas podiam nos ajudar, além de um conhecimento jurídico ótimo, afinal ela só tirava 9 e 10.

E ajudaram, como ajudaram. Principalmente o G., que foi quem nos aturou por muito tempo, com todas as nossas dúvidas óbvias. G. e sua esposa me receberam na casa deles por uma semana, quando eu e T. pegamos uns processos complicados e que não sabíamos por onde começar. Sou muito, muito grata ao G., ao Doutor N., esse nunca foi muito didático, imagina, depois de anos e anos de advocacia devia ser difícil para ele se colocar no lugar de duas cabecinhas frescas e sem experiência nenhuma. Confesso que muitas vezes falei que entendia sem ter entedido nada. Eu corria pro G., e sempre fui acolhida.

O tempo passou e eu fiquei mais segura, já arriscava discordar, olha a petulância. Mas nunca, em momento algum esqueci o que fizeram por mim, e como me acolheram.

A gente se divertiu sabe. Viramos amigas, cúmplices. A gente riu muito juntas. Adorávamos ir dar "banda" na Justiça Federal porque lá estavam os advogados bonitos, engravatados e perfumados. Fazíamos tudo juntas, sempre. A gente ria muito, fofocava muito. Como eu tenho saudade dos dias que ficavamos apostando pra quem o telefone ia tocar. Era sempre pra T. claro, eu tinha namorado, e T. estava no mercado, em uma época devia ter uns seis pretendentes. Viramos confidentes. Ela me apoiava e eu a ela. Planejávamos juntas nos casar e que nossos maridos iam ter que ser amigos, nossos filhos iam brincar juntos, e íamos fazer muitos churrascos nos domingos. Eramos as irmãs que escolhemos. Ela foi minha madrinha de casamento. E chorou comigo todas as vezes que eu e amado marido brigamos.

A T. foi mudando, fez escolhas pra vida dela que a fizeram mudar. Ficamos tão diferentes, e continuei gostando dela pra caramba. As vezes tenho vontade de abrir a cabeça dela e enfiar as coisas lá. Fico querendo perguntar onde foi que se escondeu a minha amiga. Porque, pra mim fica tão claro, de como ela podia ser mais feliz. Em como ela não se valoriza, em como a vida da gente passa tão rápido e que precisamos viver, amar, sair da toca, arriscar.

Eu aprendi a amá-la, e me sinto responsável por ela. Eu sempre estive lá quando ela ficou triste ou doente. E ela ficava tão triste, e tão doente nos últimos anos... E eu queria poder fazer alguma coisa.

De uma forma ou de outra eu fazia, quando era tristeza eu a obrigava a sair de casa, me emburrava se ela não aceitava um convite pra um passeio, pra um jantar. Quase sempre dava certo, e uma amiga em comum sempre dizia, "ela não quer ir, mas sei que tu dá teu jeito", e eu dava.

Um dia eu percebi o quanto isso me frustrava, o quanto se sentir responsável pela felicidade de alguém pode ser dolorido e frustante, e eu me afastei. Prometo que não foi por mal, foi porque doia sabe. Além do que, passei a perceber como deve ser ruim você querer se enfiar na sua concha e alguém te obrigando a sair dela o tempo todo.

Não se pode ajudar quem não quer ser ajudado. E a visão de "precisar ser ajudada" podia ser só minha não é mesmo?!

Daí a questão profissional já tinha degringolado e muito. Tudo misturado demais pra separar a essa altura.

Um se sentindo abandonado. Um se sentindo sobrecarregado.

Não tinha outro caminho, a não ser o fim.

FIM.

Com esse fim, só resta muita dor.
E eu, egoista que sou, fico querendo minha amiga de volta. Fico querendo ser compreendida e respeitada. Como uma adolescente idiota fico acreditando que as coisas podem ser como quando tinhamos 24 anos, nenhum dinheiro no bolso e muitos sonhos, quando comemoravamos o ganho de uma ação com champanhe, ou chorávamos juntas porque tínhamos levado um fora.

Eu estou tão triste que não consigo explicar.

2 comentários:

... disse...

É.. uma situação delicada demais...

Mas realmente é o fim? Ou vcs estaum precisando de uma pausa?

Bom.. sei que não sou a T. e não entendo nada de lei, mas entendo de amizade e pode contar comigo sempre qe precisar, tah?

beijos

­»Fabi«­ disse...

e eu que to com 22 anos, a cada mudança que surge me desespero, e agora lendo sua postagem percebo que a vida é uma eterna mutação.. Não adianta, a gnt pode até ser relutante, mas a vida ta nem aí, ela sempre vai provocar uns sentimentos bem estranhos na gente.
Boa sorte com a amiga e com as mudanças, se precisar da um grito ;)