Não lembro exatamente o dia. Foi junho ou começo de julho. O ano era 2007, eu tenho certeza. Foi logo depois do pior final de ano da minha vida. Naquele ano que somatizei e tive crises horríveis de asma e que em 75 horas eu dormi 6 horas apenas. Que nem lexotan me faziam desligar o cérebro.
Sabe aquela sensação de que algo estava prestes a acontecer e tinha que estar preparada?
Foram meses bem ruins. Mas a mulher maravilha não admitia isso. Óbvio.
Tá precisando de mim? Eu posso, claro.
Eu era outra. Era alguém perdida dentro das minhas certezas. E como eu tinha certezas. Era alguém incapaz de lidar com seus próprios limites. Eu estava pronta pra tudo, disponível pra tudo.
Tola.
O medo de perder o controle me assombra ainda. "Aquela" ainda ronda, ainda me persegue, ainda se instala e zomba de mim. Por muitas vezes a insegurança e o medo ainda me fazem querer correr pra ela.
Um jeito conhecido.
Fingir que não vê. Representar um papel. Que não aconteceu. Que não dói. Que não importa. Que dá conta. Distorcer a realidade pra só ver o bom te faz viver num mundo de ilusão. Uma falsa sensação de segurança. Uma falsa sensação de ser amada. Ser tão disponível para o outro a ponto de se tornar imprescindível e se sentir amada. Se enganar sobre isso e se achar feliz e rodeada por pessoas do bem.
Engolir. Ruminar.
É dolorido se dar conta que as pessoas simplesmente vão embora quando você não está ali se oferecendo para ajudar. Elas não ficam por você, elas ficam pelo que você faz por elas.
A defesa imediata: não está acontecendo. Era assim, como ligar um botão. Comer até doer a barriga para não sentir. Não querer sentir nada. Nunca.
Sabe, não é fácil. É muito dolorido, na verdade.
Dois anos depois e eu não estou curada. Já vejo onde me boicoto. Sei exatamente quando, por medo de encarar a realidade finjo que não me importo, fujo de encarar o problema. Eu ainda engulo as coisas. Ainda me fecho, rumino tudo sozinha e sorrio. Eu já sorri muito para quem me "batia". Confesso que ainda faço isso, mas agora na mesma hora me dou conta do que estou fazendo e me obrigo a tomar uma atitude. As vezes demora, mas ter a consciência disso é reconfortante sabe. Um grande passo nunca caminhada longa.
Falar. Dividir. Lembrar que não estou sozinha.
Mas como confiar? Como permitir que as pessoas se aproximem? Como deixar de ter relações superficiais? Como se relacionar com o mundo de forma diferente? Como receber? Pedir ajuda? Dizer: não consigo, não posso, não quero.
Como não olhar de perto e dar tempo ao tempo, aprender a observar antes de se entregar, antes de só ver o bom? Como inevitavelmente não se culpar pelo mal que te fazem?
Tenho certeza que me dou um poder que não tenho. As coisas/relacionamentos não dependem tanto das minhas atitutes quanto eu imagino.
Já aceitei a terapia como algo bom. Eu gosto e preciso.
Irritante, é verdade. Porque não sou eu que encerro a consulta, porque o maldito relógio fica de nas minhas costas, porque ela não responde minhas perguntas, não me dá soluções práticas, não diz o que eu quero ouvir.
Já parei de querer fugir. Ainda não tenho certeza se me entreguei totalmente, se baixei todas as minhas guardas. Me mostrei muito. Desnudei minhas fragilidades e medos como nunca fiz com ninguém.
Já pus fim a situações que me faziam mal. Já encarei procedimentos que precisavam parar de ser adiados. Já olhei de perto pro que estavam me fazendo de mal e tomei a atitude certa. Ainda, as vezes, me pergunto se eu não contribui, ainda fico achando que fui culpada por ter sido enganada/ofendida. Mas passa, consigo analisar e ver que dei o meu melhor.
Já consigo ser a mãe da Natália sem culpa por não estar voltada 100% para a andrea-advogada que eu me cobrava ser. Não represento mais um papel, um personagem. Não uso mais uma máscara. Pelo menos não o tempo todo.
Eu já durmo oito horas por noite sem precisar de remédio algum.
Com certeza não sou a Andrea que chegou lá há dois anos atrás, se dizendo "ótima e que só estava lá porque a irmã psicóloga acha que todo mundo precisa de terapia, eu tenho asma e deveria estar em um médico."
Pro meu bem eu estava lá.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
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