sábado, 2 de agosto de 2008

Mode Diarinho On...

Esse blog não tem pretensão de nada, vocês sabem né? Aqui eu não quero, nem preciso ser inteligente, engraçada, descolada, moderna, nada. Aqui eu sou eu, sem mascaras. Porque fiz (faço) uso de tantas mascaras, durante tantas circunstâncias, momentos. Até que me perdi e nem sabia mais quem eu era. Se é que um dia eu soube.

Sempre fui a filha educada, a boa aluna, a querida, a estudiosa, a que sempre dizia sim, as que a amiga da mãe gostavam, a que o pai se orgulhava.

Eu cresci assim, e vou te contar é foda sempre acreditar que se pode ser o que os outros esperam que tu seja. Cansei. Surtei. Ou sei lá, um dia acordei e me dei conta de que o peso disso tudo estava insuportável para mim.

Terapia pra mim, muita. Duas vezes por semana. Mas não sem relutar né, óóóóóóóbvio, porque a super poderosa aqui não precisava disso, eu era bem resolvida ué!

Muita insônia, muito aperto no peito, e, pasmem, crise de asma! (Uma irmã chata que ficava dizendo que as crises de asma eram psicoseilá e que eu deveria procurar ajuda. Eu, segura de mim, pensava, mania de psicologa né, tudo é psicológico, ela não sente o que eu estou sentindo!). Cedi!

Então hoje, tivemos que chamar um eletrecista meio na pressa porque umas lâmpadas novas não desligavam, e eu descobri que o maldito eletrecista da obra, que foi mandado embora por mim no meio do serviço, de tanto que me estressou, fez muito mais merd* do que eu imaginava.

Problema resolvido, eletrecista novo foi embora, e eu digo pro marido:

- Aquele maldito Lacerda, depois de mais de 8 meses ainda nos estressando e nos dando despesas. Não chegava todo desperdício de material na obra, todas as coisas erradas, ele ainda tem que me infernar. Tomara que não tenha mais arrumado trabalho nenhum, aquele maldito, porque se depender de mim ele morre de fome!

Marido quase teve um treco, me disse que era horrível eu falar uma coisa dessas, e ficou repetindo enquanto eu discursava: não fala isso amor, tu não pensa assim, não deseja isso pra ele, coitado.

- Desejo, desejo, desejo! Pronto, tenho o direito de ter raiva, ué. Só eu sei o que esse cara me fez.

Marido terminou com: Isso se chama terapia.

Fiquei pensando sobre, e navegando na net me deparo com esse texto da Martha Medeiros, era tudo que eu queria ler hoje.

MULHERES POSSÍVEIS
(Texto na Revista do Jornal O Globo )

Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.

Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.

Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com else, estudo com else, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.
Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.
É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias.
Cinco dias!
Tempo para uma massagem.
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada.
Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de is.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir.
Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo.
Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante.



- Eu sou uma mulher possível! Rá!

Mode Diarinho Off.

3 comentários:

­»Fabi«­ disse...

nossa, descobri pq ando tão cansada ultimamente..
não da pra ser a super mulher 24 horas né, a gnt precisa que alguem nos lembre disso todos os dias.

isa disse...

adorei o texto!
sofro tbem deste mal, vou tratar de encontrar jeito de mudar isto...
posso reproduzir no blog?
beijos!

Andrea disse...

Fabi, e não é? Esse é pra colar no espelho do banheiro, a gente acorda vai escovar os dentes e lê todo dia para não esquecer!

Isa, claro que pode! Achei esse texto tudo!

beijoca